Fernando
Nosso casamento, não teve festa, mas a maior festa foi casar com você, para sempre.
Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Mal sabia eu, que esse juramento seria tão sério.
A compra da nossa primeira casinha. Pequena, chão de vermelhão, mas a gente era tão feliz.
Para comprar a sede do supermercado, tínhamos que vender nossa casa e você ficou desesperado. O dono do prédio para o supermercado saiu por uma porta e entra dona Gislene pela outra querendo comprar uma casa ali por perto.
Começamos nossa construção, tivemos muitos auxiliares, mas mesmo assim foi uma luta, sol a sol. Você saía para a construção, trabalhava de servente ou de pedreiro e eu ficava no supermercado até o horário de ir para o meu trabalho.
Nossa pampinha foi que tanto nos ajudou.
Até que enfim mudamos, uma alegria só: “SUPERMERCADO DO FERNANDO”. Sonho realizado, agora faltava a casa. A mesma correria outra vez para fazer nosso tão sonhado sobradinho.
Agora sim, estávamos em casa. No Sobradinho Santo Affonso Mas não estava tudo bem, uma angústia tomou conta de minha vida. Uma dor tão forte que nem eu sabia de onde vinha. O pior, você não acreditava nessas coisas, sempre falava que tínhamos tudo, que podíamos viajar, mas não era isso que eu queria, nem eu sabia. Queria apenas que você entendesse que meu coração doía, assim sem nenhum motivo. Foi quando a síndrome do pânico tomou conta de mim e você percebeu que era sério.
Mas como tudo passa, com a fé em Deus, sua ajuda, a ajuda de familiares e médicos, me curei.
Foi então que pensamos em ter um filho e esse filho não vinha.
Mas com os tratamentos certos ele veio. Foi uma luta segurá-lo 34 semanas dentro de mim, mas
nasceu um menino forte e saudável. Sem contar que 15 dias antes dele nascer, véspera do Natal, você foi operado de urgência com apendicite.
Então chegou Miguel, nossa razão de viver, nossa vida estava completa.
Mas o caminho não ia ser tão fácil assim.
Descobri que tinha câncer na tireóide, faltando dois dias para o Natal.
Foi uma barra “Feliz Natal” para quem?
Porque o meu estava péssimo, e não tinha o direito de acabar com o Natal de todo mundo. Ficamos em silêncio, guardamos nossa dor.
O mais difícil foi saber que nosso menino, com apenas um aninho ficaria aqui, muito bem cuidado pela madrinha, mas longe da mãe. Fui para Uberaba fazer o tratamento. Tive medo de não voltar mais, pois só pensava que aquele pequeno nódulo podia ser coisa pior.
Depois da cirurgia veio a iodo terapia, 30 dias, sem pegar, sem abraçar, sem afagar meu pequeno Miguel e o Fernando nessa história, um companheiro, uma fortaleza. Foi triste quando voltei do tratamento e fui buscá-lo na madrinha Cida. Miguel já estava andando e não fui eu que ensinei a dar seus primeiros passos.
Mas guardo no fundo do meu coração, eterno agradecimento a ela, ao Gerson e aos meninos que amaram tanto meu pequeno, neste momento tão difícil.
Dois mês depois de tudo isso, o Fernando foi diagnosticado como renal crônico e ele teria que fazer hemodiálise. Meu mundo ruiu, pedras rolaram e eu não tinha o direito de catá-las ou de sofrer, porque a dor do Fernando era maior e então me sentia impotente.
Sem saber o que fazer, sem chão. A Jack conseguiu um médico em Araguari que nos atendeu com urgência. No mesmo dia ele começou a hemodiálise. O Fernando estava tão preso em seu próprio sofrimento e esqueceu que estávamos juntos nessa etapa de nossas vidas, pois quando casamos nos tornamos um só.
Eu não sentia a dor física, mas sentia a dor emocional.
Veio à angústia, o desespero, a revolta. Mas fiquei firme e forte, fui uma rocha. Tinha um anjo com apenas um ano que não entendia nada e precisava da gente. Abdiquei de meu filho, tive familiares maravilhosos que ficaram com o Miguel enquanto estávamos em Araguari, três vezes por semana.
Quantas vezes o Edílson nos levou. Entregava o Miguel de madrugada para Dora, sem pedir, sem avisar, quantas vezes também acordei a Cida, quantas vezes não liguei para Nilza ou Neusa busca-lo na escola porque eu não ia chegar a tempo. Quando estava em Patrocínio sempre havia uma pendência para resolver na prefeitura. E sempre tinha alguém para cuidar e amar o Miguel. Ele teve muito amor, mas não teve um pai e uma mãe presentes em sua criação.
Começamos os testes de compatibilidade para fazer o transplante. Não esqueço o dia, sem ter feito exame nenhum, a Cristina bateu a mão na mesa da cozinha da dona Bela e afirmou “vai ser eu, escrevam o que estou dizendo, o meu vai dar certo”. Foram três compatíveis. Eu, Marcos, e Cristina. Então foi a Cristina mesmo, sempre com o apoio de Cleverson. Depois de muitos exames, em Uberlândia, Uberaba, Belo Horizonte, fomos para São Paulo, graças a persistência da Cristina. No dia 16 de junho, fomos para São Paulo, o Miguel ficou na Nilza ainda disse tchau para o Fernando e eu, mal ele sabia quanto tempo ficaria em Patrocínio, no dia 17 de junho de 2009 o transplante foi feito.
Cristina, obrigada por ter devolvido minha vida, o meu marido e principalmente, o pai do meu filho.
Por um mês o Miguel ficou em Patrocínio, na casa da tia Deis e da Madrinha Cida, mas sei que todos os familiares o cercaram de carinho e amor. Em São Paulo foi uma barra, mas tivemos o grande apoio de nossa “irmã” Lourdes, porque foi e é isso que ela é para nós, também o José Fernandes que teve tanto carinho e paciência com o Miguel.
De volta a Patrocínio, quantas vezes a Dora, a Lígia e tantas outras buscavam o Miguel, para que eu pudesse descansar.
Dona Bela, Senhor Anízio, Dona Tereza e o Senhor Jonas, amor incondicional, porque eu como mãe posso imaginar a dor que todos vocês sentiram.
Depois de algum tempo voltamos para casa, mas um casal não é o mesmo quando passa por experiências como essa...
Eu ainda tenho medo, tenho uma dor que não me abandona, mas seguro na mão de Deus e sei que Ele nos protege sempre. Amo tanto o Fernando e o Miguel, que não sei dizer onde começa a felicidade e onde começa a dor de tanto amor. Sei que foram dez anos e espero em Deus que continuemos sempre juntos, por muito e muito tempo. Agradeço a Deus que me deu muita fé e força, para que eu pudesse suportar tudo isso.
Hoje posso afirmar que sou um ser humano melhor e que tudo que passamos foi para nosso crescimento espiritual.
Agradeço por ter uma mãe que me admira.
Pelos sogros que me amam.
Pelas minhas irmãs que são meu escudo.
Pelos meus cunhados e cunhadas que são minha proteção.
Pela Cristina, eu sua fé e luta insaciáveis para que tudo desse certo.
Pelo filho maravilhoso que Deus colocou aos meus cuidados.
E agradeço mais ainda, ao meu marido que me possibilitou tudo isso.
Estamos juntos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe.
Minha eterna gratidão a todos vocês.
Obrigada de coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário